colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Educação: o epicentro da catástrofe nacional

25/05/2025 - 09:05
Atualização: 25/05/2025 - 10:08
A- A+

A educação brasileira esconde uma realidade catastrófica. Longe de ser um motor de desenvolvimento, o sistema opera como uma indústria de precariedades, gerando escolas desprovidas de tudo, docentes despreparados, milhões de analfabetos funcionais e diplomas sem valor. Do ensino básico ao superior e às especializações, presenciais ou à distância, a qualidade é alarmantemente rasa, comprometendo o futuro do país e dos seus cidadãos.

Vejam o caso da educação básica, o centro do epicentro de nossa tragédia, opera como máquina de precarização, jogando milhões no limbo do não-saber. A "indústria de aprovações" empurra para o fracasso: a idade-série atinge mais de 20% dos jovens. As notas médias são patéticas, despejando o Brasil entre os últimos do mundo. Milhões concluem ciclos sem capacidade mínima, alimentando o drama do analfabetismo funcional. É um modelo que beira o crime: produz ignorância em massa, assassina o futuro da nossa gente e breca saídas ao país.

Enquanto isso, o ensino médio, a continuidade do funil da desilusão deveria preparar, mas o que faz é esmagar sonhos e aniquilar futuros. A taxa de abandono escolar no Ensino Médio público é escandalosa, expulsando milhares. O Ideb pífio de 4,3 é a chocante realidade de que 95% dos alunos saem sem proficiência adequada em Matemática e 92% em Português. São o atestado da falência da educação no Brasil. Não são formados, são descartados: despreparados para o mercado, o ensino superior e para a própria vida.

O Ensino Superior em nosso país, é uma máquina de descartar 94% de despreparados no mercado, uma vez que este país tem apenas 6% de pessoas plenamente alfabetizadas. Falar em qualidade nesse segmento é como chover no molhado: o Enade revela que 85% dos cursos são avaliados como medíocres. A EaD só amplifica o desastre: apenas 6 de 692 (0,9%) “escolas” alcançaram nota máxima. Universidade e EaD são indústrias de diplomas que empurram anualmente no mercado milhões sem qualificação. A evasão de 57% prova: o sistema frustra, não forma.

As "Especializações" são a cereja podre do bolo vencido da educação. São o ralo final da entrega de incautos despreparados ao mercado, à vida. Verdadeiras arapucas corporativas, elas se encarregam de desfazer o pouco do conhecimento raso adquirido pelo aluno ao longo da vida. É um esquema que beira o crime, solidificando a desqualificação em vez de combatê-la. É caso de polícia.

A educação brasileira atingiu um ponto de não retorno. Se não houver uma virada de mesa total e imediata, com reformas radicais que desmantelam essa máquina de precarização, a desesperança se consolidará. O Brasil continuará a produzir ignorância em massa, condenando gerações e assassinando seu próprio futuro.

O Custo da Inação: Implicações de uma Tragédia Anunciada

As verdades brutais sobre a educação brasileira que escancaramos não são apenas números frios; elas desenham um futuro sombrio, um assassinato silencioso de qualquer projeto de nação. A perpetuação de uma educação básica que fabrica analfabetos funcionais condena milhões à marginalidade social e econômica, limitando sua cidadania plena e capacidade de discernimento. Como aspirar a um debate público qualificado, a um mercado de trabalho competitivo ou a avanços tecnológicos se a base do conhecimento é pulverizada por essa “indústria de aprovações” e por docentes despreparados?

A inércia do Ensino Médio, que falha em reter e qualificar a juventude, transcende o problema individual e se manifesta como uma fragilização sistêmica do capital humano nacional. Essa drenagem de talentos em potencial impede o desenvolvimento de uma força de trabalho qualificada, comprometendo a produtividade econômica e a capacidade de inovação do país. Ao abdicar do futuro de milhões de jovens, o Brasil solidifica não apenas a pobreza individual, mas um retardo crônico no seu desenvolvimento social e econômico, perpetuando ciclos de dependência e baixa competitividade no cenário global. A promessa de ascensão social se torna uma ilusão coletiva, esvaziando a crença no mérito e na educação como motores de transformação.

No patamar do Ensino Superior e das especializações, o que se observa é a erosão da própria noção de excelência e confiabilidade profissional. A proliferação de diplomas sem base sólida, muitas vezes oriundos de "arapucas corporativas", não apenas precariza o mercado de trabalho, mas mina a confiança da sociedade em diversas profissões essenciais. Em áreas regulamentadas, a formação deficiente acarreta riscos diretos e tangíveis à vida e à segurança da população. Essa "tragédia corporificada" não se limita ao âmbito educacional; ela representa um caso de falência ética e social que desestrutura os pilares da governança, da saúde pública, da engenharia e de outras áreas vitais, corroendo a confiança nas instituições e, em última instância, a própria capacidade produtiva da nação.

Sem a "virada de mesa total e imediata" que clamamos neste artigo, o Brasil está irremediavelmente condenado a uma estagnação irreversível. A persistente produção em massa de ignorância – longe de ser um mero erro – é uma sentença que impede sonhos, aniquila talentos e, em última instância, interdita o futuro de uma nação. Nesse cenário, a desesperança transcende a esfera da emoção para se consolidar como a cruel realidade imposta a cada nova geração.

Além dos Números: O Que a Tragédia nos Obriga a Ver

A brutalidade dos dados que este artigo expõe sobre a educação brasileira é apenas a ponta de um iceberg do colapso. A sensação de "quero mais" que emerge ao final não é um acaso; é o grito do que está submerso, o vislumbre das consequências ainda mais profundas e das complexas engrenagens que perpetuam essa catástrofe. Ir além dos números é mergulhar na raiz da indiferença política e do descaso histórico que gestaram essa indústria de precariedades, compreendendo como políticas públicas erráticas e o mau direcionamento dos recursos que se traduzem em escolas desprovidas, docentes esgotados e currículos para dizer o mínimo, distantes da realidade do aluno.

É preciso, também, vislumbrar as faces humanas da desesperança que esses dados representam. O que significa, para uma família, ter um filho que atravessa anos de escola para sair como analfabeto funcional? Qual o peso de um diploma sem valor na busca por dignidade e propósito? Essas são as histórias não contadas que se entrelaçam aos percentuais e índices, revelando a tragédia em sua dimensão mais íntima e desoladora.

E, por fim, o "quero mais" clama por um roteiro para a "virada de mesa". Não basta gritar a denúncia; é imperativo que a sociedade comece a desenhar, com urgência e ousadia, quais seriam os pilares de uma reconstrução verdadeira. Quais modelos de financiamento, de valorização docente, de reforma curricular e de regulamentação poderiam, de fato, resgatar o futuro que hoje está sendo vilipendiado? Embora a magnitude do desafio seja imensa e as respostas, complexas, a busca por essas soluções concretas é o único caminho para transformar a desesperança em esperança.

A Virada de Mesa: O Roteiro do Nordeste para o Futuro

A magnitude do desafio educacional no Brasil clama por ações concretas que transformem a desesperança em horizonte. É nesse contexto de urgência que iniciativas como a do Instituto Nordeste apontam para rotas que podem levar para a reconstrução. A visão é clara: em três décadas, o Nordeste aspira a um desenvolvimento robusto, inspirado no modelo dos Tigres Asiáticos, onde a educação e o agronegócio são os pilares iniciais para uma ascensão que levará a segmentos de capital mais adensados e a um forte crescimento das exportações.
No cerne dessa ambição reside um plano educacional de escala e inteligência notáveis. O objetivo é retreinar 80 mil docentes — não como um fim em si, mas como o ponto de partida de um efeito multiplicador sem precedentes - Esses 80 mil se tornarão os agentes catalisadores, disseminando rigor técnico, metodologias modernas baseadas na resolução de problemas para outros 800 mil profissionais. Essa estratégia é para que o conhecimento não se restrinja a poucos, mas se ramifique, qualificando massivamente a mão de obra docente da região.

O foco não é apenas uma reforma educacional, mas crias as bases de uma revolução socioeconômica a partir da educação. Ao investir na qualificação massiva do capital humano, o Nordeste pavimenta o caminho para a produtividade, a inovação e a competitividade global. A desesperança pode ser substituída por um plano de ação concreto, onde cada docente capacitado e cada profissional retreinado são tijolos na construção de um futuro que hoje muitos julgam uma quimera. A aposta na educação como motor primário do desenvolvimento, replicando o sucesso dos Tigres Asiáticos, oferece ao Brasil a chance de reescrever sua própria história, transformando uma região inteira em um farol de prosperidade.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato